Giovanni Battista Felice Castagneto (Gênova, 27 de novembro de 1851 — Rio de Janeiro, 29 de dezembro de 1900), também conhecido como João Batista Castagneto, foi um pintor, desenhista, professor e restaurador nascido na Itália que contribuiu imensamente com os trabalhos relacionados a paisagística brasileira, principalmente da questão marinha, do final do Século XIX.
Na Itália, em sua cidade natal, Gênova, Giovanni Battista Castagneto era um marinheiro. Exercia a profissão com o pai, Lorenzo Di Gregorio Castagneto. Em 1874, junto ao seu pai, o futuro pintor chegou ao Rio de Janeiro. Sem muitas informações sobre sua aptidão para arte e afazeres na Itália, ao chegar, seu pai o matriculou na Academia Imperial de Belas Artes. Como tinha uma idade avançada, falsificou seus documentos e conseguiu ingressar nas aulas de desenho geométrico, desenho figurativo e matemática, no começo do curso.[1]
Muitos estudiosos e contemporâneos do artista já declaravam seu talento e proatividade em melhorar e incrementar sua produção. Sua produção em relação às marinhas, ao mar, o barco e as pessoas foi objeto de estudo do pintor desde seus tempos.[2] Deixando claro seu amor e sua admiração pelo movimento e pelo ato de navegar, como indicado por Donato Mello Júnior, ao dizer que o pintor “produziu grande parte de sua obra embarcando numa canoa, pintando em fundo de caixas de charutos, sinal de sua pobreza”,[3] que fora criado com isso junto ao seu pai, Lorenzo. Em A Arte Brasileira, livro produzido pelo crítico Gonzaga Duque, em 1888, o autor escreveu:
Nas aulas, Castagneto se destacava e chamava atenção de seus professores. Alguns deles como Victor Meirelles e João Zeferino da Costa. Zeferino, em 1883, o chamou para trabalhar nas obras de reforma da Igreja da Candelária. Como assistente, Castagneto passou a melhorar suas aptidões e logo em seguida, em julho daquele ano, passou a dar aula de desenho em algumas escolas locais.[2][3]
De 1882 a 1884, Castagneto foi instruído por Georg Grimm. Trabalho junto ao pintor e, após a quebra de Grimm com a Academia Brasileira, Giovanni ajudou-o a estabelecer o estúdio do Grupo Grimm na praia de Boa Viagem, em Niterói, se tornando o primeiro membro do grupo, que depois contaria com Antônio Parreiras e Hipólito Boaventura Caron.[2]
A prova que Castagneto já se destacava em entre os alunos da Academia veio em 1884, quando, junto ao pintor Georg Grimm, conquistou medalha de ouro na Exposição Geral de Belas Artes. Causou espanto, a surpresa foi grande e consagrou-se definitivamente como pintor após esta conquista.[2]
Com isso, alguns afazeres vieram. Castagneto passou a lecionar também no Liceu de Artes e Ofício do Rio de Janeiro e no Liceu de Niterói. Com seu desempenho e constante melhoria, após três exposições produzidas, em 1886 conquistou seu lugar no Liceu Nilo Peçanha, em Niterói, e conseguiu expor suas obras individualmente pela primeira vez em sua vida, na Casa Vieitas,[1][2] onde já havia exposto junto com outros pintores. Nesta exposição algumas obras, como Praia de Santa Luzia, Porto do Rio de Janeiro, Praia e Igreja de Santa Luzia, Santa Casa de Misericórdia e Praia de Santa Luzia no Rio de Janeiro, Faluas Ancoradas na Ponta do Caju no Rio de Janeiro, Embarcações atracadas a um cais na Baía do Rio de Janeiro, Praia e Igreja de Santa Luzia (2), Marinha com Barco, Canoa a seco na Praia em Angra dos Reis, Rua de Santa Luzia, Rio de Janeiro, Embarcações ancoradas no Porto do Rio de Janeiro, Pedras à Beira Mar na Praia de Icaraí, Estação de Bondes e Cocheiras da Linha de Carris Vila Guarani na Antiga Praia Formosa, Navio Ancorado, Praia de Santa Luzia a Noite, No Varadouro – Rio de Janeiro, no Varadouro – Angra dos Reis, Niterói, marinha com barco e Marinha já estavam prontas para exposição.
No ano seguinte, Castagneto deixou de lecionar no Liceu de Artes e Ofício do Rio de Janeiro e expôs na Glace Élégante. As críticas que os jornais promoveram “causaram profunda amargura no artista” segundo Gonzaga Duque, o que fez com que a produção tornou-se irregular e o artista parasse certo período de produzir suas obras. Mesmo com esses empecilhos e uma vida desregrada já neste início, em 1890, o artista expõe seu trabalho na redação do jornal O Farol, em Juiz de Fora, Minas Gerais. Após este feito, parte rumo à França, com ajuda dos amigos que o incentivam a viajar em virtude de maior aprendizado mediante sua obra já produzida.[2]
Na França, Castagneto tem suas primeiras experiências em Paris. Logo nos primeiros contatos conheceu o pintor provençal Frédéric Montenard (1849 – 1926), responsável pela recomendação de fixar-se na cidade de Toulon (sua localização está no mapa a direita), apresentando-o ao marinhista François Nardi (1861 – 1936).[2]
Nardi era um artista talentoso e sincero, com quem Castagneto se identificou bastante a ponto de estabelecer convivência frequente e acompanhá-lo, por longos períodos, nas sessões de pintura ao ar livre. Determinados aspectos no tratamento das cores e na percepção da luz, nas obras europeias produzidas por Castagneto entre 1891 e 1893, se devem a uma certa influência temporária exercida por Nardi.[4]
Ao voltar para o Brasil, em 1893, o manejo volta. A regularidade torna-se orgulhosa aos olhos do artista e da crítica. Giovanni Castagneto então produz suas obras mais conhecidas, como a Marinha do Barco (1895) e Trecho da Praia de São Roque em Paquetá (1898). O primeiro em viagens pelo Brasil, especificamente em São Paulo, onde percorre os rios que pertencem a cidade em algumas de suas exposições e produções. A vinda de Castagneto a São Paulo foi motivada pelas exposições de Antonio Parreiras e Francisco Aurélio de Figueiredo e Mello, pois ambas obtiveram sucesso de vendas. Como em Paris, Giovanni Battista não tinha predileção pela modernidade. A área urbana foi ignorada pelo autor, que passou o ano de 1895 praticamente entre São Paulo e Santos, onde realizou duas exposições individuais: no salão nobre do Banco União de São Paulo, de junho a aproximadamente agosto e no Salão de Concertos da Paulicéia, em outubro. Nesta época o artista teve grande sucesso de vendas com os colecionadores locais. De São Paulo a Santos, Castagneto passou a pintar trechos de sua viagem em busca das paisagens e da natureza, principalmente pela esfera aquática.[5]
De 1897 a 1898 a ilha de Paquetá foi praticamente seu local de residência permanente. Gonzaga Duque conta que Giovanni Battista Castagneto sempre teve um comportamento rebelde, “parecido com o mar”, que não atendia convenções e era bem boêmio. Sua condição precária e física muito fraca, a falta de cuidado culminou em uma série de doenças. Todavia, sem muitos cuidados e muita embriaguez, o artista faleceu na Casa de Saúde Ferreira Leal, em Botafogo, na cidade do Rio de Janeiro.[2][6]
Algo que permitiu que Castagneto possui-se certa fama e eclodisse no mundo das artes no Rio de Janeiro é o aspecto marinho que se consistia na época. Sua tradição paisagística e amor pela marinha combinavam com os anseios de Dom Pedro II. O artista não pintava quadros enormes como Eduardo De Martino e Gustave James, porém, tinha essa característica específica do mar, diferente dos outros artistas que foram convidados a pintar barcos enormes e paisagens confrontadas com a batalha do Paraguai, por exemplo.[7][8]
Castagneto possui uma tela com barco enorme, salvo no MASP, intitulado A Grande Gala na Baía do Rio de Janeiro (1887), todavia, é um quadro abruptamente atípico diante de sua obra. Sua autoria sempre remeteu a pequenas embarcações, recantos da praia, baía e a própria marinha, como mostra Gonzaga Duque:
No começo de sua arte, Castagneto produz pinturas de acordo com a natureza e principalmente a marinha. O aspecto canônico e arquetípico do navegante pobre na canoa em direção nenhuma apenas com seus materiais para pintura é vivido por Giovanni. Sua experiência no mar e na experiência de vida que teve junto ao seu pai Lorenzo foram aspectos importantes em sua pintura. Principalmente se colocando em certos aspectos dentro de sua obra.[2]
Filho de um lobo-mar, de um velho nauta do Mediterrâneo, deixa claro a preferência pela inconstância do mar. Há um aspecto do impressionismo colocado nessa agressividade das águas marinhas que se debruçam sobre os rochedos, areia e marinha. Todavia, diferente dos aspectos megalomaníacos e medievais, Castagneto tem um aspectos sintético e rápido em sua obra. O suporte improvisado em suas andanças sem rumo estão presentes nesta técnica que era natural, devido a necessidade.[9]
Após o prêmio em 1887 sua obra passou a ter um aspecto mais pessoal diante dos pescadores. Passou a retratar a vida humilde de alguns pescadores que se encontravam no recanto das baías. Os barcos colocados a seco, com maltrapilhos e cangas brancas esticadas, manchadas, em contra partida a navegações grande ao fundo da tela, são aspectos que Castagneto passou a tomar como forma em sua obra. Tudo isso movido a cores padecidas e proximidade com a terra, deixando claro que os recantos eram produzidos para gente da pesca, traduzindo até uma poesia obscura diante do mar já possessivo pelas grandes embarcações.[5]
Depois das constantes frustrações e viagem pela França, o traçado de Castagneto volta a tomar forma e simplicidade, todavia, agora conta com novos aspectos pictóricos, cores e também movimentações da água e da praia. Há uma gestualidade maior dentro de seus pincéis, desenhos rigorosos que marca formas e desestruturam-se entre si nesta simplicidade dos acontecimentos nas pinturas:[10]
Sempre com formas um tanto quanto pessoais, as pinturas de Castagneto tomaram forma de acordo com o sentido de sua vida. Ao fim de 1896, já com aspectos ébrios e tomado pela boêmia, o autor possuía pinceladas forte e agressivas, de modo progressivo, que Carlos Roberto Maciel Levy indicou como a volta da simplicidade, mas muito mais representativa. Ainda sim, deixa claro o importante momento em que viveu, que, de acordo com o autor, “Castagneto morreu com o único período que, na história, poderia comportar sua arte romântica e aberta; mais cedo, teria sido podada como manifestação de loucura; mais tarde, interpretada como um simplismo piegas e reacionário (...)"[2]
Em primeiro ponto é claro destacar que Giovanni Castagneto tem um traçado gestual livre, com tendências ao monocromatismo. Seu amor pela navegação provém de seu pai, porém, a natureza e seus aspectos em movimento tem forte tendência de Georg Grimm.[12]
Em sua segunda fase, após sair da Academia de Belas Artes, muitos o destacam como impressionista, porém, neste sentido histórico e positivista, a tentativa de demarcar o autor em escolas é um tanto quanto complicada. Sua sensibilidade, segundo Gonzaga Duque e Maciel Levy deve-se muito ao romantismo, pois interpreta a natureza de acordo com seus sentimentos mais pessoais, como por exemplo a escolha dos barcos e dos pescadores, onde tomam pinceladas impulsivas e violentas para deixar claro o espaçamento farto e o corte de figuras desenhadas. Começam-se a desenhar seus aspectos consolidados após Toulon, onde aprendeu com François Nardi.[2][3][11]
Com o francês as tonalidades mudam, os sentimentos de revoltam aumentam, as paletas de cores mudam e os traçados são violentos. Um lirismo que, segundo Gonzaga Duque, aliado a execução rápida entregam o pintor manso e irascível: "Como o mar o seu temperamento é rebelde" e "Como artista ele sente, por uma maneira originalíssima, maneira de que só ele possui o segredo, todo os enlevos, toda a poesia das vagas".[3]
Um fato curioso na obra de Castagneto é a que ao longo de sua produção artística, Castagneto realizou uma grande quantidade de obras que repetem um mesmo motivo. Por vezes os elementos são os mesmos e as alterações consistiam no enquadramento do artista, seu tratamento técnico e o suporte no qual utilizava para produzir as telas, assim, muitas vezes mudando o material. O método que o artista utiliza sugere uma questão de pintura em série, principalmente por representar certos locais mais de uma vez, como Paquetá e Niterói, com diferentes pontos de vista. Todavia, não pode ser afirmada, apenas seu objeto de desejo.
A vida bucólica, os pescadores e principalmente a atmosfera marinha são objetos que João Batista não deixa passar. Podemos assim, destacar a modernidade de Castagneto na técnica, já a capacidade de produzir diferentes elementos de uma mesma realidade são ações pela qual não são tão comuns para a época. O ambiente francês parece ter favorecido essa criação e a inovação do artista.
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